No dia 18 de maio de 1973, o desaparecimento de uma menina de 8 anos no estado do Espírito Santo, Brasil, marcou profundamente a história criminal do país. Araceli Cabrera Crespo, filha de um eletricista espanhol, desapareceu misteriosamente após sair da escola, na cidade de Serra. O seu pai, desesperado, rapidamente procurou ajuda junto das autoridades e da imprensa local, distribuindo fotografias da sua filha pelos jornais na tentativa de obter pistas sobre o seu paradeiro.
Seis dias mais tarde, o corpo da pequena Araceli foi encontrado em condições atrozes, atrás do hospital infantil de Vitória, capital do estado. A criança tinha sido raptada, abusada sexualmente, torturada e, por fim, assassinada. O corpo apresentava sinais de ter sido queimado com ácido numa tentativa evidente de ocultar o crime. Segundo o perito Nilson Santanna, que investigou o caso, Araceli sofreu traumas enquanto ainda estava viva e, apenas após ser sedada, foi morta.
O caso gerou uma onda de indignação em todo o país, e o promotor Wolmar Bermudes acusou a influente família Michelini de envolvimento no crime. Dante Michelini Filho e Helal Michelini foram acusados de serem os responsáveis pelos abusos e homicídio de Araceli, enquanto Dante Michelini, pai dos dois, foi acusado de facilitar o sequestro da criança, permitindo o seu cativeiro.
Apesar das acusações e da condenação inicial no tribunal de primeira instância, a família Michelini recorreu da decisão e foi posteriormente absolvida por falta de provas materiais. A condenação foi baseada em testemunhos e circunstâncias, mas, na ausência de evidências físicas que ligassem diretamente os acusados ao crime, os tribunais superiores decidiram pela absolvição. O juiz Hilton Silly, que condenou os réus em primeira instância, levou cinco anos a estudar o caso e redigiu uma sentença de 700 páginas. Na sua decisão, embora tenha destacado a gravidade das acusações, afirmou que não havia provas concretas suficientes para manter a condenação.
O desfecho do caso gerou revolta e frustração entre a população, especialmente no estado do Espírito Santo. Muitos acreditam que o poder e a influência da família Michelini desempenharam um papel crucial na absolvição. O nome de Dante Michelini, pai de um dos acusados, continuou a ser alvo de contestação, especialmente porque uma das principais avenidas de Vitória, a capital, leva o seu nome. Em 2013, quarenta anos após o crime, manifestantes cobriram as placas da “Avenida Dante Michelini” com o nome de Araceli, num gesto simbólico de protesto contra a impunidade e a falta de justiça no caso.
O caso de Araceli teve um impacto profundo na sociedade brasileira. Como forma de honrar a sua memória e de lutar contra a violência sexual infantil, o governo brasileiro instituiu o dia 18 de maio, data do seu desaparecimento, como o Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes. Este marco, embora simbólico, reflete a necessidade urgente de proteger as crianças e de garantir que crimes desta natureza não fiquem impunes.